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"Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra". (Anísio Teixeira)


quinta-feira, 6 de junho de 2013

Investimento e disciplina fizeram da Coreia do Sul uma campeã em educação


Há anos com fortes índices em rankings mundiais de educação, a Coreia do Sul é geralmente lembrada como exemplo de país cujo sistema educacional deu certo. Segundo o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2010 , os alunos sul-coreanos ficaram em quinto lugar na prova que testou seus conhecimentos em matemática, ciências e leitura. Dados do Banco Mundial divulgados em 2011 apontaram que 98% dos jovens entre 25 e 34 anos completaram o ensino médio.
Esse patamar de qualidade e de acesso à educação foi atingido, segundo especialistas, graças a um maciço investimento em educação (em 2009, segundo o Banco Mundial, esse investimento foi de 5% do PIB, ou seja, US$ 47,1 bilhões) – principalmente na formação dos professores, no investimento em material de apoio e na melhoria da estrutura e funcionamento das escolas – combinado com a cultura asiática de disciplina e valorização do ensino. No Brasil, aumentar o valor destinado à educação é uma das metas do Plano Nacional da Educação , em tramitação no Congresso há dois anos. O governo também tenta, através de projeto de lei, aplicar os recursos dos royalties do petróleo na área.
O desenvolvimento da educação na Coreia do Sul foi motor do rápido crescimento econômico do país, ao qual precedeu. Para se ter uma ideia, até os anos 1960, a Coreia do Sul apresentava níveis sociais e econômicos comparáveis aos países mais pobres da Ásia. Logo após a Guerra da Coreia (1950-1953), que deixou quase 138 mil sul-coreanos mortos, o PIB per capita do país no período era de US$ 883, mais baixo do que em nações como Senegal e Moçambique. Em 2004, seu PIB ultrapassou US$ 1 trilhão e, atualmente, o país figura como a 15ª economia do mundo, exportadora de tecnologia de ponta.
Na Coreia do Sul, o sistema priorizou primeiramente a educação primária. Só quando esta se tornou universal, o governo passou a destinar recursos para o segundo e terceiro graus.
Além de um plano de carreira consolidado, os professores sul-coreanos recebem altos salários e há investimentos e valorização de seus meios de trabalhos. Ser professor na Coreia do Sul, de acordo com especialistas, é ter uma carreira de prestígio. Segundo afirmou ao iG o professor Paul Morris, do Instituto de Educação da Universidade de Londres, o status dos professores é resultado da relação que a sociedade possui com a educação.
`Professores são vistos pelas autoridades como cruciais para o projeto nacional e elas não costumam criticá-los publicamente, por exemplo. Eles também são extremamente capacitados mesmo antes de começar a ensinar`, relatou.
Morris explicou que o sistema sul-coreano estimula a forte competição entre os jovens para a entrada nas melhores universidades e escolas. `Geralmente, os pais veem na educação um meio vital para determinar as oportunidades nas vidas de seus filhos e os encorajam e pressionam a trabalhar duro`, disse.
Como outros países asiáticos, a Coreia do Sul usa exames públicos competitivos como um motor para a seleção e para a mobilidade social, com a entrada em uma boa escola ou universidade dependendo unicamente do desempenho nas provas. Por causa dessa pressão, o engajamento das famílias na educação das crianças na Coreia do Sul foi um elemento fundamental para que o país chegasse ao patamar atual.
A educadora brasileira Beatriz Cardoso, diretora executiva do Laboratório de Educação, passou dez dias na Coreia do Sul desenvolvendo um projeto que buscava desmitificar rankings como o Pisa. O projeto resultou no programa `Destino: Educação` , transmitido pelo canal Futura em 2011.
Beatriz minimiza o impacto do investimento econômico no bom desempenho sul-coreano nos rankings mundiais. `Visitamos uma família na Coreia do Sul que vivia em uma casa menor que um dormitório. Nela, moravam três pessoas. A mãe era separada, e a família tinha uma situação financeira apertada. A dedicação número um para essa mãe, com todas as dificuldades da vida, era o ensino da filha.`
Beatriz relata que as aulas das crianças na Coreia do Sul começam às 7h30 e terminam às 17h. Às 18h, todos vão para uma escola privada, paga por seus pais, nas quais há aulas até tarde da noite. `O governo recentemente decretou uma lei determinando que as escolas deveriam fechar à meia-noite, porque essas instituições às vezes ficavam abertas até as 2 horas.`
Enquanto é uma das razões para o sucesso econômico sul-coreano, o alto grau de dedicação ao ensino também tem um aspecto negativo. Segundo dados do Ministério da Educação, 146 estudantes cometeram suicídio, incluindo 53 no ensino médio e três no fundamental, em 2010 no país. `As crianças na Coreia do Sul se queixam da privação de sono, da falta de tempo, da pressão. Embora tenham um resultado acadêmico elevado, o custo é altíssimo`, opinou Beatriz.
Morris acrescentou que há preocupações de que um sistema como o da Coreia do Sul, muito concentrado no resultado de provas e testes, prejudique o pensamento crítico e a criatividade dos alunos. `Por exemplo, o Japão, que tinha um sistema parecido, costumava ter aulas de sábado, mas isso foi proibido em uma tentativa de reduzir a pressão sobre os estudantes e criar um ambiente mais relaxado de ensino.`
Série:
Esta reportagem faz parte da série do iG sobre as mudanças que poderão ocorrer na educação do País a partir do investimento dos royalties do petróleo na área. Para entender o contexto, conheça a história dos royalties no Brasil e a tramitação dos projetos de lei no Congresso. Outra matéria mostra exemplos de vidas que mudariam se o Plano Nacional de Educação, que é discutido em paralelo no Congresso e estabelece metas para a área , fosse aprovado.
Fonte: Bruna Carvalho - IG Último Segundo - Acessado em 05/06/2013

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