Não é preciso ir muito longe. Nas praças, nas calçadas, pedindo
dinheiro nos sinais ou dormindo embaixo de alguma árvore. É esse o dia a
dia de cerca de 4500 pessoas que, enquanto moradores de rua, são
invisíveis para muitos, e amedrontam grande parte da população, que
teme os impactos da violência urbana. O cenário se mostra ainda mais
preocupante quando se conhece a realidade das casas de acolhimento na
Capital, que suportam apenas 70 pessoas por dia. Os números são da Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome (Setra), órgão da Prefeitura de Fortaleza.
Para atender à demanda da população de rua da Capital, a cidade conta apenas com um Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) e uma casa de passagem. Ambos, funcionando somente em horário comercial, são insuficientes para suprir as necessidades de quem não tem um lar. Cálculos mostram, no entanto, que para atender a toda a população de rua estimada em Fortaleza, seriam necessários 64 Centros Pop.
"O problema pra gente é a noite. Fecha o Centro Pop, a gente tem que voltar pra rua. E no fim de semana, não tem banheiro nem nada", reclamou um morador atendido pelo Centro de Referência, durante visita da reportagem à casa, no Centro da cidade.
De acordo com o secretário titular da Setra, Cláudio Ricardo, há um
grave problema na oferta de condições de atendimento para a população de
rua. "A demanda tem crescido pelo próprio aumento populacional, a droga, os rompimentos com os vínculos familiares, o desemprego. E com isso, eles acabam caindo na rua, que é o fundo do poço", afirma Cláudio.
A estimativa do titular da Setra é de cerca de 4500 pessoas nas ruas
da Capital, diante de um equipamento que atende apenas cerca de 70 por
dia. "Os abrigos são insuficientes, mas estamos tentando ampliar",
afirma, confessando que há uma expectativa positiva, pelo menos, até
2014. "Estamos em processo de reabertura do abrigo noturno, até o fim do ano, pelo menos", garantiu.
De acordo com a Setra, o perfil de maior incidência na população de rua é o de homens com idade entre 26 e 35 anos,
ensino fundamental incompleto, com origem de Fortaleza, com vínculo
familiar fragilizado ou rompido, e que não desenvolve nenhum tipo de
trabalho/renda. Além disso, as drogas, principalmente o crack, fazem
parte do dia a dia de grande parte deles.
Secretaria conhece reclamações, admite dificuldades e afirma que burocracia é maior entrave
Embora os moradores de rua sejam carentes de serviços urgentes, a
dificuldade maior na contenção dos problemas relativos à ausência de
políticas públicas para a população de rua está na burocracia. A
afirmação é do próprio secretário Cláudio Ricardo, que garante buscar
dialogar com entidades filantrópicas para tentar minimizar os problemas
dos moradores de rua. "Estamos procurando um lugar para mais um abrigo,
mas dependemos dos aspectos burocráticos, como avaliação e adequação do
imóvel, além de encontrar o espaço físico. Estamos em diálogo com
entidades, como a Pastoral da Rua", afirmou. "É um problema de abordagem
complexa, mas é um problema de todo mundo", sintetizou o secretário.
Promessa é de um novo Centro Pop e de restaurante e banheiros públicos. FOTO: JOSÉ LEOMAR
Promessa é de um novo Centro Pop e de restaurante e banheiros públicos. FOTO: JOSÉ LEOMAR
A Setra também aguarda pela promessa da Prefeitura de Fortaleza da instalação de banheiros e restaurantes populares.
O secretário confia em uma parceria envolvendo a pasta e as regionais
da Capital. "As principais reclamações dos moradores de rua é a falta de
banheiros e de alimentos nos fins de semana e feriados. Estamos
estruturando uma política de segurança alimentar. Vamos instalar
cozinhas populares e um banco de alimentos. A meta da Prefeitura é
construir um restaurante popular por regional. Sobre os banheiros,
discutiremos com as regionais a possibilidade de instalação. Vamos
agendar uma reunião para discutir", garantiu o secretário da Setra,
Cláudio Ricardo, embora não tenha tratado de prazos.
Fonte: Diário do Nordeste - site acessado em 29/10/2013.
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