Desde 2008, todas as escolas
brasileiras são obrigadas por lei a ensinar sociologia e filosofia durante o
ensino médio. Considerado um avanço por muitos professores, a obrigatoriedade
estaria ameaçada por um projeto de lei de autoria do deputado federal Izalci
Lucas Ferreira (PSDB-DF). Questionado pelo Terra, o parlamentar garantiu,
contudo, que vai retirar a proposta do texto, que prevê também outras mudanças.
Ferreira disse ter recebido muitas
críticas pelo projeto. Ele esclarece que considera as disciplinas importantes,
mas questiona a carga horária dedicada a elas atualmente e explica que o
objetivo original de sua proposta era um ensino transversal, de forma que os
assuntos de sociologia e filosofia permeassem outras disciplinas. Entretanto, o
deputado mesmo ressalta que nem todos os professores de outras licenciaturas
possuem formação adequada para lidar com sociologia e filosofia.
O Projeto de Lei (PL nº 6.003/2013)
pretende alterar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em seus
artigos 9º, 35º e 36º e propõe, além da questão que envolve as duas
disciplinas, aplicar o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de forma seriada,
em cada um dos três anos dessa etapa, e ampliar a carga horária mínima do ensino
médio para 3 mil horas (hoje são 2.400 horas). Com a ampliação, segundo o
deputado, seria possível aumentar o número de horas de sociologia e filosofia.
O desejo de ampliar a carga horária e
trabalhar com interdisciplinaridade é compartilhado pelo subsecretário de
Gestão de Ensino da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro e professor de
sociologia, Antonio Vieira Neto. `Desejo que as competências de sociologia
sejam percebidas em outras disciplinas. Este é o trabalho de integração
curricular por área de conhecimento`, afirma. Vieira Neto diz que o
conhecimento é algo único e não fragmentado. `A ideia é que o aluno tenha uma
visão geral do contexto do conhecimento onde tudo isso esteja integrado`,
observa.
Segundo o professor de Sociologia e
Filosofia do Colégio Visconde de Porto Seguro de São Paulo, Steevens Beringhs,
essas duas disciplinas são importantes por provocarem no aluno uma reflexão
crítica. `Não só da sociedade como um todo, mas de si próprio também.
Sobretudo, elas trazem subsídios para reflexão enquanto ser humano`, afirma.
Vieira Neto diz que as duas disciplinas entraram na matriz curricular para dar
uma dimensão social e política do mundo aos estudantes. `Isso serve para dar
condições, porque alguns não convivem com isso nas suas próprias casas`,
afirma.
Além de trazer o contexto do mundo
para escola, Vieira Neto acredita que o conteúdo dessas matérias fazem com que
os alunos entendam a sociedade e como ocorre o seu funcionamento. O professor
de filosofia do Colégio Estadual Araucária, em Araucária, no Paraná, Ivanildo
Luiz Monteiro acredita que suas aulas são os momentos em que os alunos mais têm
oportunidade de expor o que sentem. `Eles não têm aquela inibição de dizer o
que pensam porque sabem que ali não estão sendo julgados`, diz. Nas suas
avaliações, ele prefere trabalhar com seminários, nos quais a turma tem
liberdade de participar das discussões. Para a realização da atividade, é
orientada uma pesquisa prévia com auxílio de uma bibliografia. Na sua escola,
são oferecidas duas horas por semana de filosofia.
Apesar de algumas escolas priorizarem
conteúdos tradicionais como matemática e português, com foco nas provas de
vestibular, Beringhs enxerga a `dupla` como conteúdos-chave para os processos
seletivos, inclusive o Enem. `Elas servem como argumento para as redações, que
representam boa parte desse tipo de prova. Além disso, são disciplinas
sensibilizatórias, que incitam a reflexão crítica`, aponta.
O interesse do jovem em uma
determinada disciplina é muito relativo, acredita o subsecretário. Ele afirma
que há uma tendência dos alunos darem maior importância às matérias de
português e a matemática, porque essas seriam as grandes dificuldades do ensino
médio. Por outro lado, Beringhs diz que a receptividade dos alunos na sala de
aula `é a melhor possível`. Ele relata que os estudantes percebem ter uma
distância muito grande entre ler o livro didático e o livro original de
pensadores, como Roberto DaMatta, por exemplo. `Por serem de uma geração mais
crítica, eles encontram na sociologia um caminho para um aprendizado mais
autônomo`, afirma.
O professor diz que
tem uma condição ideal na escola, onde as disciplinas são oferecidas nos três
anos do ensino médio. Além disso, no nono ano do fundamental, a escola oferece
aulas que tratam de atualidades e já introduzem os assuntos de filosofia e
sociologia. São facultativas, mas a procura é grande, segundo Beringhs
Fonte: Portal Terra Educação - acessado em 17/02/2014.
Foto: Google imagem.
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