Foto: www.educarparacrescer.abril.com.br - 24/11/2011 |
Fala-se muito hoje em Bullying. A
palavra, originária da língua inglesa, é empregada boa parte das vezes de modo
errado, espécie de caldeirão onde se joga tudo de ruim que pode acontecer em
sala de aula. Há crianças que sofrem, no dia a dia escolar, situações que lhes
causam mal, mas que não podem ser chamadas de Bullying. Há quem veja apenas
como ‘brincadeira’ o que é percebido, no outro, como agressão e razão de
infortúnio. Há crianças, vítimas de Bullying, que também são entendidas como as
responsáveis por esse tipo de situação - nem sempre o agressor é quem dá início
a esse tipo de violência, algo que os pais não conseguem admitir,
particularmente, os da criança ‘agredida’. Nove fora, a falta de informação
sobre o tema é enorme, tornando o Bullying uma violência que atinge a todos, os
pais incluídos.
- Teste para alunos: como você se comporta em relação ao Bullying?
- Teste para pais: como você vê seu filho em relação ao Bullying?
"O Bullying acontece, quando
existe um movimento real contra uma determinada criança", esclarece a
psicóloga e psicopedagoga Nívea Maria de Carvalho Fabrício, diretora do Colégio
Graphein, em São Paulo. "É uma campanha, uma perseguição contra um alvo
muito bem definido." Com mais de 38 anos de experiência no trato com
alunos das mais variadas personalidades e histórias familiares, Nivea já viu de
tudo um pouco. Tem, portanto, expertise de sobra para colocar os pingos nos iis
em relação a um tema tão atual e afeito a provocar dúvidas. Em sua opinião, são
nas escolas maiores, onde as relações ocorrem de modo impessoal e a capacidade
de controle é menor em face do número de alunos, que as possibilidades de
acontecer Bullying crescem e causam apreensão. "Nessas escolas, existem
hoje três grupos de alunos, os nerds, os populares e os bobos - já ouvi muita
criança dizer que não pode ser nerd ou "CDF", caso contrário, não
será querida da classe", Nivea descreve. "Os bobos? Não se misturam
com o resto dos alunos".
Começa, então, a funcionar uma
divisão social dentro de uma grande escola típica do universo paulistano, por
exemplo. O Bullying? Ele acontece, quando um desses grupos implica com um
determinado aluno, a ‘crítica’ se propaga ferozmente pelas redes sociais e o
caos se instala. Em especial, em casa. Porque os pais pouco ou nada conseguem
fazer para ajudar os filhos, sejam eles os agredidos ou agressores, a
sobreviverem ao contato com o Bullying - na opinião de Eric Debarbieux, diretor
do Observatório Internacional das Violências nas Escolas, "uma das
violências mais graves que o ser humano pode sofrer."
Apesar da gravidade do problema,
Birgit Möbus, psicopedagoga da Escola Suíço-Brasileira, em São Paulo, faz
questão de alertar que o Bullying é muito sensível à intervenção das
autoridades - no caso da escola, dos professores, supervisores e mesmo
diretores. "Mas é preciso que a comunidade escolar se envolva como um todo
para combater essa violência de modo a reduzir efetivamente o número e a
gravidade dos casos", adianta.
Ou ainda: a situação é grave, mas
há solução à vista. Faz parte dela a adoção de atitudes no ambiente escolar,
caso do respeito e da generosidade, entre outras. "São palavras
aparentemente vagas, mas bastante sérias... a criança hoje fica brava por muito
pouco!", aponta Nivea. E isso não pode continuar assim, certo? "É
desde pequeno que se aprende ser possível vencer, ao lado do outro, os
obstáculos que a vida impõe", lembra Gisela Sartori Franco, psicóloga e
especialista em Convivência Cooperativa. "A gentileza, o consenso e o
diálogo, infelizmente, não são hoje ‘treinados’ em sala de aula, daí a
necessidade dos pais estarem atentos à rotina escolar e exigirem, nas reuniões
com professores, mudanças no currículo escolar."
Eis uma sugestão de como os pais
devem se comportar para ajudar seus filhos a sobreviverem - com saúde! - ao
contato com o Bullying. Com a ajuda das especialistas Nivea Maria de Carvalho
Fabrício, Birgit Möbus e Gisela Sartori Franco, destacamos outras de igual
importância a seguir.
1.O envolvimento dos pais no dia
a dia escolar é importante - eles precisam mais do que nunca entender a necessidade da educação e,
em conseqüência, jamais se afastar da rotina dos filhos em sala de aula
2. Pais precisam ser ajudados a
serem pais. Porque a
sociedade anda permissiva demais e eles se sentem perdidos ante essa
realidade
3. Não tire seu filho de imediato
da escola onde sofreu Bullying: primeiro, é importante trabalhar com os
professores e a direção dessa escola de modo a resolver o problema. Porque será
muito importante para ele vencer o Bullying no ambiente onde foi vítima
4. Se não der certo - e é preciso
atenção para a evolução do problema, não deixar passar o tempo em demasia...
-, recomenda-se a transferência, se possível, para uma escola preparada para
dar suporte a essa criança
5. Vale a pena insistir aqui no
ponto ‘nevrálgico’: nem sempre o agressor é quem deu início ao Bullying, mas
sim quem se faz de vítima. Ou ainda: tudo pode se resumir a uma forma
(desesperada) de chamar a atenção de quem se sente excluído, marginalizado,
pelos colegas de classe
6. Porque a violência existe e
assusta, mas o Bullying não acontece por acaso. Aliás, por ser um
assunto de sala de aula, ele precisa ser tratado com ela por inteiro. Em outras
palavras: os pais não devem se preocupar em proteger apenas o próprio filho,
seja ele o agredido ou o agressor ou apenas testemunha desse tipo de
violência
7. Na reunião de pais e
professores, esse assunto deve ser tratado de modo a que todos participem
- e não isoladamente, atingindo apenas os envolvidos com o caso de Bullying
8. Pais devem exigir
imediatamente da escola uma estratégia de trabalho que envolva o agressor, o
agredido e o grupo por inteiro
9. Em casa, pai e mãe precisam
conversar diariamente com o filho sobre as aulas, mesmo que ele tenha uma
reação negativa, do tipo "ah! que conversa chata!" etc. Claro, existe
a medida adequada e ela varia de criança para criança. Mas o importante, neste
caso, é criar o hábito da conversa entre pais e filhos
10. Essa conversa pode se
tornar um ritual a ser integrado na refeição do domingo, por exemplo. Um
momento de aproveitar a reunião familiar para que cada um fale de si
mesmo.
11. Porque não dá para usar o
pretexto de trabalhar muito e permanecer fora de casa o tempo inteiro - e
assim não ajudar o filho em um momento tão difícil da vida dele!
12. Às vezes, basta dizer para o
seu filho, "você gostaria que alguém falasse dessa forma com você? Pois,
eu não gosto, fico triste..." É importante se colocar no lugar do outro,
sentir na pele que a ‘brincadeira’ feita não tem a menor graça... Brincadeira
só vale quando todos se divertem - e nunca quando acontece à custa de outro.
Isso é fundamental e os pais devem trabalhar essa questão, conversando com seus
filhos desde a infância
13. Sem essa troca de
informações entre pais e filhos, uma situação de Bullying pode já estar
ameaçando o cotidiano escolar - e nenhum adulto se deu conta dos sintomas
dessa violência no comportamento da criança e/ou do jovem. Que se mostra mais
irritadiço e angustiado, inventando desculpas para não ir à escola etc.
14. É na conversa com o filho
que os pais vão perceber o porquê da agressividade e da insatisfação, orientando
a buscar outras formas de se expressar. Se os pais não souberem fazê-lo, não há
razão de constrangimento - ao contrário, devem pedir ajuda a quem foi treinado
para isso, na escola
15. Se os pais perceberem que o
filho está de fato sofrendo algum tipo de ‘pressão psicológica’ no ambiente
escolar, precisam informar professores e direção da escola para que a
questão seja tratada de modo cuidadoso o quanto antes!
16. Muitas vezes a escola não
sabe que está ocorrendo uma situação de Bullying até porque ela acontece fora
da sala de aula e, portanto, longe do olhar do professor. Mesmo sem provas,
é importante intervir. Atenção: a escola é a autoridade na relação entre
alunos - e não os pais!
17. O Bullying é muito
sensível à intervenção das ‘autoridades’, ou seja, dos professores,
supervisores e até mesmo diretores. Em especial, quando desperta o envolvimento
da comunidade escolar como um todo no combate a essa violência
18. O Bullying é resultado de
uma relação interpessoal em desequilíbrio. Há, portanto, de se cuidar dos
dois lados envolvidos - existe um problema de autoestima a ser trabalhado,
tanto em relação ao agressor quanto ao agredido
19. Cada escola tem a sua
maneira de agir, mas o que se espera é que ela seja parceira dos pais do
aluno que é vítima de Bullying - e também daquele que é entendido como
agressor. O ideal: aproximar as duas famílias de modo a envolvê-las na solução
do problema. Porque todas elas são perdedoras em uma situação de Bullying
20. Pais e professores precisam
se unir para ensinar às crianças e aos jovens a serem assertivos - ou
seja, saberem se expressar de modo positivo quando algo os incomoda, fazendo o
outro entender que há limites que não podem ser ultrapassados
21. O respeito às diferenças
precisa ser exercitado diariamente no ambiente escolar. Os pais devem
exigir que os professores de seus filhos trabalhem nessa direção em sala de
aula de modo a que uma situação de Bullying não volte a acontecer entre os
alunos. Que não precisam ser amigos, mas sim precisam se respeitar um ao
outro
22. É recomendado que se faça uma
dinâmica de grupo com os alunos da classe onde ocorreu um caso de Bullying,
conversar individualmente sobre o problema, verificar em que estágio a campanha
de Bullying se encontra disseminada na rede social e, se necessário, coibir o
uso da rede por um tempo determinado
23. Com ou sem Bullying, os
pais precisam ter controle sobre o uso da internet por seus filhos, eles
não podem ter liberdade total no exercício dessa atividade - os pais devem ter
acesso às redes sociais do filho como espectadores, jamais devem
participar!
24. Pais não são amigos dos
filhos, mas sim pais. E, nesse papel, precisam orientar. Não podem
confundir o papel, até porque a criança precisa ter no pai e na mãe uma figura
de autoridade, pessoas que inspiram confiança e representam um porto firme para
ela
25. Pais não devem vitimizar
seus filhos, muito menos tratá-los como se fossem reis ou rainhas. Quem
pensa só em defender, se esquece que ninguém é santo, muito menos o próprio
filho
26. Tentar despertar coragem no
filho com a frase "não leve desaforo para casa!", impondo respeito na
base da agressão, é o pior que se pode fazer a uma criança indefesa. Não é
com esse ‘troco’ que se constrói um ambiente de solidariedade entre os
colegas
27. Quando os pais percebem que
seus filhos são autores de Bullying ou mesmo testemunhas desse problema no
ambiente escolar, devem conversar abertamente com eles a respeito e, ao
mesmo tempo, pedir ajudar à escola. Porque quem é autor ou testemunha desse
tipo de violência também está sofrendo e precisa ser cuidado!
28. Os pais se consideram
responsáveis pelas vidas dos seus filhos, quando são, na verdade, responsáveis
até a página 50 - daí pra frente ou mesmo antes disso, os filhos vão fazer o
que lhes dão na veneta... O sucesso não depende mais dos pais, mas sim
deles próprios
29. Cabe aos pais darem o
maior número de instrumentos necessários para os filhos terem sucesso.
Entretanto, como eles vão usá-los, bem, isso já não é mais responsabilidade
paterna. E o problema está aí: os pais se sentem culpados de verem os filhos
fazerem tudo errado e, com a pressão da culpa, não conseguem mais ajudar
30. Atenção: o Bullying pode
acontecer não apenas no ambiente escolar, mas também no bairro. É quando o
seu filho pode não ser aceito pela turma por se recusar a beber ou fumar. Seja
qual for a situação lembrem-se: uma das estratégias fundamentais na luta contra
essa forma de violência é a aliança entre pais e escola. Sempre
Fonte: Site Educar Para Crescer –
24/11/2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário