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"Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra". (Anísio Teixeira)


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Por que jovens de 15 a 17 anos estão na EJA

 
A presença de adolescentes na Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Ensino Fundamental é preocupante: quase 20% dos matriculados têm de 15 a 17 anos. O número de alunos dessa faixa etária na modalidade não tem sofrido grandes variações nos últimos anos, apesar da queda no total de matrículas (28,6%). Dados da Ação Educativa com base nos Censos Escolares indicam que, em 2004, eram 558 mil estudantes e, em 2010, 565 mil. O cenário tem chamado a atenção dos especialistas da área. Por que esses adolescentes estão frequentando a modalidade, em vez de estar na Educação Básica regular? São vários os motivos (leia na última página os depoimentos de 13 estudantes). Alguns extrapolam os muros da escola, enquanto outros têm a ver diretamente com a qualidade da Educação, ou seja, envolvem o Ministério da Educação (MEC), Secretarias Municipais e Estaduais, gestores e, é claro, os professores que lecionam na modalidade.
Três grandes questões sociais fazem com que, todos os anos, muita gente desista de estudar ou então deixe a sala de aula temporariamente:
- Vulnerabilidade Muitos estudantes enfrentam problemas como a pobreza extrema, o uso de drogas, a exploração juvenil e a violência. "A instabilidade na vida deles não permite que tenham a Educação como prioridade, o que os leva a abandonar a escola diversas vezes. Quando voltam, anos depois, só resta a EJA", diz Maria Clara Di Pierro, docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
- Trabalho A necessidade de compor a renda familiar faz com que muitos alunos deixem o Ensino Fundamental regular antes de concluí-lo. O estudo Jovens de 15 a 17 Anos no Ensino Fundamental, publicado este ano na série Cadernos de Reflexões, do MEC, revela que 29% desse público que está matriculado do 1º ao 9º ano já exerce alguma atividade remunerada, sendo que 71% ganham menos de um salário mínimo. A dificuldade de conciliar os estudos com o trabalho faz com que mudar para as turmas da EJA, sobretudo no período noturno, seja a única opção.
- Gravidez precoce A chegada do primeiro filho ainda na adolescência afasta muitos da sala de aula, principalmente as meninas, que param de estudar para cuidar dos bebês e, quando conseguem, retornam à escola tempos depois, para a EJA. Assim, não estudam com colegas bem mais novos e concluem o curso em um tempo menor. Segundo a Fundação Perseu Abramo, 20% dos meninos que largaram os estudos tiveram o primeiro filho antes dos 18 anos. Entre as mulheres, esse percentual é de quase 50%. Dessas, 13% se tornaram mães antes dos 15 anos, 15% aos 16 anos e 19% aos 17 anos.

Conheça os motivos que fazem com que adolescentes estudem na Educação de Jovens e Adultos

Geraldo
Trabalho "Comecei a trabalhar com 5 anos. Desisti de ir para a escola no 5º ano. Hoje trabalho com uma carroça, mas já sei dirigir carro e moto. Já fui pedreiro e vez ou outra faço uns bicos de ajudante. Vou terminar a escola para ter um emprego melhor."  
Geraldo Ribeiro do Nascimento, 15 anos, aluno do 3º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Juazeiro do Norte, CE
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João
Distância da escola "Resolvi estudar à noite, na EJA, porque à tarde levo e busco meus irmãos na escola, que fica a 4 quilômetros da nossa casa. A prioridade é que eles, que são menores, não faltem nunca. Quando não tem carona, ando 24 quilômetros por dia para levá-los, buscá-los e para eu mesmo ir e voltar da escola." João Paulo das Neves Martins, 16 anos, aluno do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Marabá, PA.

Jordan
Reprovação "Fui reprovado três vezes por indisciplina. Minha avó também foi aluna da EJA e me ajudou a mudar. Na sala, os alunos mais velhos são comportados, mas são legais. A história de vida deles serve de exemplo para quem é mais novo. Quero fazer um curso técnico de mecatrônica."  
Jordan Germano Castelaci, 15 anos, aluno do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª série), em Curitiba.

Poliana
Decisão do gestor "Por nota, só repeti a 2ª série. Nos outros quatro anos, fui reprovada porque sempre abandonava a escola. Era uma aluna problema, brigava muito e matava várias aulas. Por isso, me mandaram para a EJA. Hoje, continuo estudando porque quero melhorar minha vida."  
Poliana Maria da Silva, 15 anos, aluna do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Juazeiro do Norte, CE.

Mari
Evasão "Entrava na escola e logo saía. Achava que não aprendia nada. Só aos 15 anos comecei a levar os estudos a sério. Casei há dois anos e minha sogra me incentivou a voltar. Para tudo nessa vida, tem de estudar. Hoje, se estou com dificuldades, procuro o professor. Meu sonho é ser médica e vou correr atrás disso."
Mari Taís da Silva, 19 anos, aluna do 3º ciclo da EJA (5ª e 6ª séries), em Juazeiro do Norte, CE.

Marcelo
Trabalho "Saí da escola para tentar ser jogador de futebol no time do Fortaleza. Passei na peneira, mas fui dispensado porque não estava estudando. Perdi a grande chance da minha vida porque deixei a escola. Voltei porque quero fazer administração."  
Marcelo José da Silva, 16 anos, aluno do 3º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Juazeiro do Norte, CE.

Cosme
Decisão do gestor "Sempre trabalhei como pintor e repeti uma única vez. Este ano, mudei de escola porque a diretora me mandou para a EJA. Na minha sala, somos apenas oito alunos jovens. O restante da turma é formado só por pessoas mais velhas. Sinto falta do colégio anterior, principalmente dos meus amigos."
Cosme Monteiro da Silva, 15 anos, aluno do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Teresina, PI.

Taís
Reprovação "Faltava muito e por isso repeti o 2º ano, depois o 3º, o 4º e o 5º. Quando fui reprovada no 6º, decidi ir para a EJA. Estava me sentindo velha, meus colegas eram pequenos. Aqui sou a mais nova, mas me sinto à vontade. Tem gente de todas as idades."  
Taís Daniele Cardoso, 16 anos, aluna do 3º ciclo da EJA (5ª e 6ª séries), em Sertãozinho, SP.

Jessislane
Trabalho "Durante o dia, trabalho em uma casa de família e à noite vou para a escola. Prefiro frequentar as turmas da EJA porque as aulas são mais tranquilas, não tem bagunça. A minha vontade é fazer faculdade de administração de empresas e quero estudar até quando for possível."  
Jessislane Rodrigues Aquino, 15 anos, aluna do 3º ciclo da EJA (5ª e 6ª séries), em Marabá, PA.

Jackson
Distância da escola "Morava na zona rural, minha casa ficava muito longe da escola e não havia transporte. Durante seis anos, ajudei meu pai na roça. Este ano, ele passou a trabalhar em uma fábrica aqui e comecei a estudar. Como nunca havia frequentado a escola, recomendaram que eu fosse para a EJA." 
Jackson Martins da Silva, 18 anos, aluno do 1º ciclo da EJA (1ª e 2ª séries), em Sertãozinho, SP.

Marciane
Gravidez precoce "Fiquei sem estudar por dois anos porque me casei, tive bebê e meu ex-marido era muito ciumento. Perdi muito tempo, mas voltei mais madura. Antes, só pensava em bagunçar. Aqui, na EJA, não tem isso. Só tenho uma amiga, mas acho até bom porque me concentro mais. Quero logo tirar o diploma e conseguir ser advogada."  
Marciane Souza Dias, 18 anos, aluna do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Teresina, PI.

Wallace
Desmotivação "Fiquei três anos fora do colégio porque achava estudar chato demais. Cheguei a dizer para a minha mãe que ‘preferia morrer a voltar pra escola’. Ela tem 60 anos e me convenceu a voltar quando ela própria se matriculou. Hoje, estamos na mesma turma."  
Wallace Jonatas Belo da Silva, 17 anos, aluno do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Sertãozinho, SP.

FONTE - Site da Revista Nova Escola - 22/09/2011.

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