Aula de qualidade é aula planejada

> Folha de Londrina, 15/02/2011 - Londrina PR

Aula de qualidade é aula planejada. Mercado competitivo e disponibilidade de informação exigem do professor mais do que simplesmente repassar conteúdo aos estudantes

Érika Gonçalves - Reportagem Local

             Para uma instituição de ensino ser boa, não basta ter nome nem só estrutura física. É imprescindível contar com um bom corpo docente. E bons professores são formados não só pelo conteúdo que são capazes de repassar, mas também pela maneira como isso é feito. As novas tecnologias são ferramentas importantes, mas é o planejamento de aula adequado que faz toda a diferença. O professor Luiz Fernando Gomes Guimarães é especialista no assunto. Em passagem recente por Londrina para ministrar curso para professores da Unifil, ele concedeu entrevista sobre a importância do planejamento de aula para a qualidade de ensino. E destacou que o hábito dos professores brasileiros de não executar o que foi planejado nem avaliar os resultados é prejudicial para a qualidade da educação. ''Acredito que esse ciclo será rompido quando todos os planos forem articulados e, principalmente, avaliados. Dessa forma, poderá ser verificado realmente quem planeja para alcançar resultados e quem o faz simplesmente para cumprir uma exigência burocrática'', dispara. 

Qual é a importância do planejamento escolar? O planejamento é fundamental para uma boa prática docente. No atual nível da tecnologia, com as ferramentas de busca tipo Google e outras, é como se tivéssemos uma memória externa. O docente é importante para mostrar como encontrar tais informações, como filtrá-las e o que fazer com elas. Nesse contexto, não cabem improvisações. Além do mais, a instituição de ensino tem um compromisso social de formar o cidadão e/ou profissional, como descrito em seu projeto pedagógico. Assim, todas as ações docentes devem ser articuladas e isso só é possível através de um planejamento no qual são definidos aonde se quer chegar, como e com quais recursos. 

  

Quais os elementos de um bom planejamento? O bom plano é aquele que explicita em que ponto nos encontramos, onde pretendemos chegar, nossos marcos referenciais (valores), os meios que utilizaremos para alcançar nossos objetivos, os prazos e os recursos necessários. Mas não basta fazer o plano. É necessário executá-lo e avaliá-lo permanentemente para fazer as correções necessárias.

Qual é a importância do uso de tecnologia como apoio para aulas? Penso que a tecnologia nos fornece ferramentas que podem e devem ser utilizadas. Mas é importante que se tenha em mente que são um meio e não um fim em si mesmo.

Existe o risco de que equipamentos e softwares, como data show e power point, sejam usados para encobrir falta de conteúdo? Claro. Acontece sempre. Mas a sorte é que tais artifícios não escondem a incompetência por muito tempo.

O senhor afirma que o número de faculdades particulares vai diminuir em algum tempo por causa da concorrência acirrada. O diferencial entre quem se manterá ou não no mercado será a qualidade. O que os professores e instituições precisam fazer para garantir a sobrevivência? Acredito que teremos dois tipos de instituições privadas. As de grife, reconhecidas pelo mercado e pela sociedade como tendo diferenciais importantes como qualidade e/ou alta especialização, e as grandes redes, com cursos e preços mais populares. Nos dois casos, será exigida do docente uma qualificação especial e/ou atributos especiais. O professor ou instituição que ficar tentando um meio-termo terá sérias dificuldades de sobrevivência. Especialmente no caso do docente, creio que somente a titulação não bastará.

Não é mais interessante investir em recursos como bibliotecas bem-equipadas do que em muita tecnologia para ser usada na sala de aula? Todos esses recursos devem ser utilizados de forma equilibrada. Com a evolução do conhecimento é muito veloz, é difícil para as instituições de ensino manter suas bibliotecas com títulos sempre atualizados. Assim, é importante o acesso amplo a periódicos, revistas on-line e outras fontes de informação.

O que o professor de escola pública, que via de regra tem carga horária excessiva, pode fazer para driblar a falta de tempo para preparar aula? Esta é uma questão difícil quando falamos de educação básica. Nas instituições públicas de ensino superior o docente é contratado por regime e é remunerado para preparar suas aulas. Já nas escolas públicas de ensino fundamental e médio resta ao docente se desdobrar para cumprir esta atividade. É bem verdade que em algumas redes estaduais e municipais já ocorre uma remuneração pelo tempo de preparo, mas estes valores são insuficientes. O ideal seria que os docentes das redes públicas fossem contratados por regime de trabalho de 20, 30 ou 40 horas e que 40% desse tempo fosse utilizado para preparação de aulas, atendimento ao estudante e reuniões.

A falta de planejamento é uma característica intrínseca do povo brasileiro? Como romper esse ciclo para criar a cultura do planejamento entre os professores? Não penso que nossa cultura não valorize o planejamento. Acredito que elaboramos até muitos planos. O que não fazemos é executá-los e muito menos avaliá-los. Acredito que esse ciclo será rompido quando todos os planos forem articulados e, principalmente, avaliados. Dessa forma, poderá ser verificado realmente quem planeja para alcançar resultados e quem o faz simplesmente para cumprir uma exigência burocrática